sexta-feira, novembro 23, 2007

Você tem que passar no vestibular!!


"Eu não sei nada! Eu não sei nada!"
Francis "Chainsaw" Gremp
(Curso de Verão - 1987)



Há exatos 10 anos, acordei bem cedo. Era uma manhã cinzenta de domingo, há muito tempo esperada e para a qual houve muita preparação. Não lembro se comi alguma coisa, mas acho que sim. Meu pai passou lá em casa na hora marcada, que, diga-se de passagem, tinha uma margem de segurança absurda. Deu tempo ainda de ele passar na padaria para tomar um café da manhã rápido.

Chegando ao campus da UERJ, minha barriga já começava a fritar. Havia pouquíssimas pessoas por lá, algumas das quais vendiam lápis e caneta para os mais esquecidos. Lembro de ir com a camisa que minha turma fez para o fim do terceiro ano: aquela que foi proibida pelo reitor. A camisa mostrava uma caricatura do reitor com sua tradicional batina de monge beneditino. Essa caricatura foi feita pelo Aroeira (sim! o próprio!) com base numa foto de uma revista da minha avó. Essa revista ele tá me devendo até hoje, mas isso é outra história. Fato é que o desenho mostrava o reitor levantando a parte de baixo da batina dizendo: os rapazes tem um grande incentivo pois só verão outra saia que não a minha na universidade!

O objetivo da camisa era meio que mostrar que eu era do time do São Bento! Que tinha estudado que nem um corno enquanto meus concorrentes ficavam olhando para as pernas de suas coleguinhas de turma e que, enquanto eles estavam namorando e tals, eu estava em casa e-s-t-u-d-a-n-d-o!! Era, no final das contas, para meter aquele medo extra na galera. Simple as that! E do jeito que eu tava ansioso e nervoso por essa prova, toda ajuda era bem vinda.

Comecei a circular, então, pelo lugar já notando que um dos vestibulandos estava lendo livro de matemática (pelo qual eu também estudei). Na hora, lembro que eu pensei: coitado, esse já era. Cara, se tu tá nessa de ler agora, tu tá é perdido! Aos poucos, pessoas conhecidas foram chegando e as conversas foram girando em torno de um assunto recorrente entre nós beneditinos: o quanto nós havíamos apostado alto. Tínhamos que passar de um jeito ou de outro! Não tinha desculpa! Estudou no melhor colégio? Agora prova que valeu a pena!!

Deu 7 e pouco, entramos e cada um foi para sua sala. Eu deveria fazer minhas provas não-específicas para o vestibular da UFRJ: inglês (molezinha), biologia (acho que consigo me dar bem), história (glup!) e geografia (fudeu!). Fiz as provas nessa ordem. Lembro que em uma das perguntas, minha resposta não deu no espaço certo e escrevi uma linha a mais. Isso me deixou MUITO nervoso na hora e depois. Fiquei pensando que minha prova poderia ser anulada.

Na prova de história, tinha uma questão que perguntava o nome do movimento cultural que houve na Bahia nos anos 60. Pensei: caralho! Não faço a menor idéia! Mas, depois, na fase de enrolação quase no fim da prova comecei a pensar: movimento cultural. Pô, o que é cultura? Ah, música, teatro, dança, literatura, arte em geral. Vamos lá! Música... Agora, música na Bahia. Música na Bahia é foda... só tem merda... mas peraí... tem o João Gilberto... ele é um cara legal... Gilberto Gil e Caetano também são... Nesse ponto, comecei a pensar em músicas do Caetano... uma das que eu pensei foi aquela: "olha a bossa-ssa-ssa, viva a palhoça-ça-ça-ça"... que música é essa? - pensei. Peraí! É Tropicália!! Cacete!! Tropicalismo!!! Oh yeah!! Essa foi divertida... hehehe.

A prova terminou, entreguei o que consegui fazer e fui embora. Mas a prova ainda continuou dentro de mim. Sabia todas as questões de cor! Sabia todas as minhas respostas também. Comecei a ver com professores meus quanto eu poderia ganhar com cada resposta. Tinha feito altas estatísticas para calcular minhas notas. Eu lembro que teve algumas vezes que deitado na minha cama sem conseguir dormir, eu acendia a luz do quarto, pegava a calculadora e começava a fazer contas. Só depois de ver um número um pouco mais bonitinho, que eu conseguia deitar.

Foi uma época muito tensa. Eu tinha um calendário com a data de cada prova para ir riscando ao longo do caminho. Nossa, dá um nervoso só de lembrar. Ainda bem que já passou.

Essa prova da UFRJ foi a minha primeira, no dia 23/11/1997.

quinta-feira, novembro 22, 2007

All together now!!


Lá em casa, reunião de família era na casa da vovó. Era sempre muito legal e a espera pelo evento era igualmente empolgante. Seja Natal, dia das mães ou Páscoa... Mas minha família, assim como todas as demais, é recheada de personagens bem característicos: tem o primo que sempre acabava dormindo no meio da festa, tem a tia que estava sempre chegando de viagem cheia de novidades (e querendo contá-las!), tem o tio-avô que gostava de dizer o quão inteligente é sua cria, tem o outro tio avô sempre brincalhão que todos gostavam de ouvir, tem a avó que todo mundo gosta e acaba por unir a todos, tem aquela que gosta de criar caso e brigar com os outros, tem aquele tio que já é um homem de negócios e só quer saber de relaxar com a família, tem aquele outro que é médico e a qualquer momento um de seus pacientes pode achar que está morrendo, o arrastando para fora da festa...

Agora, raramente há uma reunião de família e quando ouço falar em reunião, não é, digamos, de família. Ontem foi uma dessas. E é, de um modo bizarro, interessante ver certas semelhanças entre esses dois tipos de reunião. Mesmo antes de começar, aquele consultor técnico já está contando vantagem e dizendo quão privilegiados nós, mortais, somos por estarmos em sua presença. Pode contar, não dá nem meia hora de reunião e aquele analista já está nos braços de Morfeu. Enquanto isso, aquele seu outro consultor sênior, percebendo que o saco de todo mundo já está quase estourando, não perde uma oportunidade de soltar uma bendita piadinha! E aí a reunião começa a sair da fase conversa e entrar na fase discussão. Nisso, aquele gerente começa a querer dar o tom do debate e começa a perguntar por pessoas que deveriam estar lá e não estão! Sim, essa pessoa é aquele engenheiro que está viajando e que estará de volta na outra reunião, sem nenhuma idéia do que aconteceu nessa, mas com várias novidades de vida inteligente mundo a fora.

Nisso você já vê que as pessoas estão divididas entre aquelas que estão no olho do furacão e aquelas que estão se perguntando o porquê de estarem ali. E é aí que aquele colega mais afortunado (sim, aquele que tem médico marcado) começa a planejar sua fuga estratégica pela esquerda. É claro que, ao sair de lá, ele ainda vai se prometer mil vezes que vai pensar mil vezes antes de embarcar em outra reuniãozinha dessas.

Desculpe, pessoal, tô meio sem inspiração...

quinta-feira, novembro 08, 2007

Ciente


"Ciente". Era o que minha mãe escrevia em cada página da minha caderneta do colégio e em cada folha de meus cadernos de dever de casa. Era uma forma de ela mostrar que estava acompanhando, mesmo eu nunca ter tido cara de novela. E ela estava, tal como o Big Brother (o de 1984, não o de 2008), sabendo de tudo que acontecia com seus controlados. Nada escapava ao seu "visto".

No colégio mesmo, para ir ao recreio, tínhamos que mostrar nossa bandeja do almoço para a professora. Só após esse "visto" verbal, ganhávamos nossa liberdade. Assim, devido ao temperinho da comida do colégio, acabamos por nos tornar experts em fraudar a avaliação visual da sentinela pedagógica. E era cada método mais inovador e ousado que o outro. Testei quase todos. Uns mais efetivos que outros, verdade. Mas nosso objetivo (quase) sempre era alcançado e logo estávamos no pátio fazendo merdas que só smurfs sabem fazer.

Hoje fui em busca de mais um "visto" na minha vida. E nessa minha caminhada cíclica (mas sem andar em círculos), me via diante de uma coisa que quer ser o Big Brother do mundo e, ao mesmo tempo, se acha no direito de dizer se as pessoas podem ou não fazer as merdas que só elas sabem fazer. E será que ele vai me deixar seguir em frente?

Saindo do mundo maluco que é a minha cabeça quando começo a escrever, cheguei ao consulado às 9:27 (estando marcado para 9:30). Pô, filinha na porta. Beleza. Tava andando, não deveria demorar muito. Nisso, aparece um cara que era uma espécie de Gil Brother (vulgo Away de Petrópolis) depois de uma séria aplicação de Soul Glo! O cara tava alugando cadeira a 2 reais para se usar na fila. Depois fiquei até pensando quanto ele poderia lucrar com isso: cheguei a 1200 reais por mês! Sinistro. Ele vez por outra passava anunciando suas cadeiras dizendo que estava fazendo estágio para Cônsul e que por enquanto ele era Brastemp. :)

Depois de esperar 1 hora, entrei. E lá tem uns guardas tipo os de aeroporto. Eles revistam tudo! Mas tudo mesmo! Até o meu estojo eles abriram. Enquanto revistavam as minhas coisas, os guardas pareciam estar no meio de uma grande discussão entre eles. Até pensei que poderia ser algum tipo de teste do governo norte-americano para ver se eu agüento uma situação de estresse para passar para a próxima fase. Um segundo em solo estadunidense e eu já absorvi a paranóia deles! The truth is out there, man! I know it! Mais uma fila para mostrar os formulários que eu havia preenchido, juntamente com o passaporte. Meia horinha e sou o primeiro. Recebo uma senha (165) e vou esperar na cadeira junto com "mó" galera. Tem uma hora que você começa a ouvir conversa dos outros (ops): "A mulé do guichê 6 é tranqüila. Teve gente que ficou 10 minutos no guichê 3 e saiu chorando!"

Depois de uns 40 minutos, chamaram os números até 170. Opa! É agora! Opa! Não é agora... Mais uma sala com mais cadeiras. Mas daqui dá para ver os guichês! Vou ficar mais perto do 6 só por precaução. Mais meia hora e me chamam pro guichê 1. Lá vou eu armado até os dentes com todos os documentos da minha vida toda. Eu poderia provar qualquer coisa com eles! De local de trabalho a teorema de Fermat. Abro a porta e me deparo com um velhinho. Me senti meio que num jogo de poker: estava disposto a cobrir qualquer aposta dele! E não é que ele me faz umas 3 perguntinhas e manda o Royal Straight Flush: seu visto foi concedido.

Não que eu esteja reclamando, mas porra! Eu tinha todos os documentos do mundo!!! Eu tinha resposta a todas as perguntas do universo! Em português e inglês!!

Bem, saldo positivo no final e fico mais perto de visitar meu pai! Tô chegando!!
PS: Dica para galera que quer picar a mula e pegar o avião: http://www.visto-eua.com.br