sexta-feira, junho 29, 2007

Do bombeiro ao petroleiro

No trabalho da minha mãe, existiam várias atividades para os filhos dos funcionários, especialmente para os pequenininhos. Havia festas de Natal regada a presentes, almoços de confraternização no restaurante da empresa e corridas no Aterro do Flamengo com direito a medalhas e troféus, não importando o quão lesma fosse o pimpolho. Mas uma coisa de que eu me lembro bem é que, certa vez, houve um concurso onde os filhos dos funcionários deveriam fazer um desenho sobre combate a acidentes. Eu fiz um ridículo desenho que mostrava um carro de bombeiros apagando um incêndio. O mais surpreendente foi que eu venci o tal do concurso e fui convidado a comparecer na empresa para receber meu merecido prêmio durante uma cerimônia. Tiveram outros vencedores, de diferentes faixas etárias, mas eu lembro que eu venci! Ganhei um brinquedo do qual não lembro muito bem. Só me lembro que a caixa era um cubo e que, no final, todos os vencedores tiraram uma foto juntos.

Mas isso foi em meados dos anos 80. E, à medida que fui crescendo, fui acompanhando a chegada de um outro concurso, de um outro tipo. E esse não seria nem um pouco divertido de participar. Que diabos é esse negócio chamado "vestibular"? Eu lembro que, quando eu entrei no primeiro grau, eu tinha a nítida impressão de que as pessoas simplesmente entravam na faculdade direto, como se fosse a série seguinte. Do tipo: você está no último ano do colégio? Passou de ano? Sim? Então faculdade! Êêêê! Como as crianças são inocentes! Nossa Senhora! Mas até chegar perto do dito-cujo, confesso que nem pensava nele. Mas ele chegou e eu estava perante mais um concurso na minha vida. Onde será que eu desenho o caminhão de bombeiro dessa vez? Bem, não tinha lugar para desenho... Só para palavras... Tudo bem... Acho que o pessoal do vestibular gostou das minhas "palavras" e me deram o brinquedo da vez (sem cerimônia nem fotos): 5 anos de estudo de Engenharia Eletrônica. Tudo bem. Confesso: acho que me diverti mais na faculdade do que com o brinquedo da caixa cúbica... hehehe

Acho que me diverti tanto que os 5 anos viraram (até agora) 9 anos, incluindo mestrado e doutorado. O fato é que, com o tempo passando, é hora de mais um concurso: o famigerado "concurso público". E aí chego também à razão de ser do presente post. Esqueçam estilos musicais duvidosos, destinos paradisíacos para férias, restaurantes elegantes da moda. A febre do momento é o Concurso Público e todas as suas promessas de um bom dinheiro no fim do mês, num horário convidativo e com toda a segurança que só o Estado pode oferecer para você, cidadão brasileiro! E quem não quer isso? Aquele que nunca participou de um concurso que atire a primeira pedra. Alguém? Alguém?

E já existe toda uma indústria em torno do tema. Existem livros que, ao contrário dos tradicionais livros de provas passadas, trazem supostas dicas para os concursandos. E isso me lembra outra coisa interessante. Não sei se isso sempre existiu, mas hoje em dia existe a figura do "concurseiro", que é aquela pessoa que vive de estudar para concursos, sendo uma espécie de multi-concursando. Acho que se o número de indivíduos desse grupo fosse pequeno, o autor daquele livro que falei agora há pouco já teria morrido de fome, o que não aconteceu! Ele deve estar feliz e saltitante dando palestras por aí (com um belo cargo de juíz - a cara deve saber o que fala).

E conheço muita gente que está se dedicando a isso agora. É assustador! Já ouvi falar de dentista tentando ser fiscal da receita, de jornalista tentando trabalhar no Ministério Público e até de engenheiro que acabou virando petroleiro. O Brasil está de pernas pro ar e, enquanto esse país não valorizar os profissionais que forma, haverá sempre pessoas que deixam de lado o caminho previamente planejado na época daquele outro concurso no fim da adolescência para garantir o leitinho das crianças e para que essas possam também participar do seus prórios concursos.

segunda-feira, junho 18, 2007

Completando o copo...


... a fé é como um copo d'água. Quando nós somos crianças, o copo é pequeno e, por isso, fácil de encher. À medida que envelhecemos, o copo fica maior. A mesma quantidade de água não preenche mais o copo. Mas, de tempos em tempos, o copo precisa ser completado com mais água.

Kevin Smith