domingo, novembro 08, 2009

Jukebox Noventista


No distante ano de 1991, o Rio de Janeiro vivia a iminência do segundo Rock in Rio. Bandas de peso, como Guns n' Roses e Faith No More, cantores solo, como George Michael e Lisa Stansifield, e bandas de "época", como Information Society e Dee-Lite, estavam prometidas aos cariocas. Muita coisa na cidade girava em torno disso, desde comerciais da recém chegada MTV até temas para aulas em curso de inglês. Uma das coisas que mais me causam nostalgia é a xerox da apostila do CCAA com letras de músicas do Guns e do FNM. Essa "xerox" circulava em vários lugares. Quem viveu lembra. Numa época sem internet, conseguir letras das músicas sem ter a fita ou LP original era bem difícil, especialmente se você não tem dinheiro algum. Outra fonte de letras era a minha tia. Ela chegou a me enviar uma carta pelo correio com algumas letras escritas a mão (lembro até hoje da carta escrita com tinta roxa). Apesar de eu, no auge dos meus 10 anos de idade, ainda não estar muito atraído à idéia de enfrentar uma multidão de malucos para ir a um show, foi aí que eu comecei a ter contato com essas bandas. Gostei. Mas nada que se compare ao momento da "revelação" que viria no ano seguinte quando ouvi pela primeira vez Bohemian Rhapsody.

O Faith No More é uma banda que foi muito presente no início dos anos 90 e ela entrou meio que por osmose na minha mente. Depois, ficando mais interessado no mundo da música, fui me envolvendo mais e descobrindo mais coisas. De "Introduce Yourself" ao "Angel Dust". Gravei uma fita do "Live at Brixton Academy". Peguei "emprestadado" com o "Patrão" o LP do "The Real Thing". Em 1995, comprei o hoje antológico CD "King for a Day, Fool for a Lifetime". Esse ficou rodando no meu microsystem JVC por um bom tempo. Praticamente dormia lá dentro! Foi em 95 também que fui ao Philips Monsters of Rock no eterno Metropolitan. Na ordem: Paradise Lost, Faith No More e Ozzy. Um fato curioso é que Mike Bordin, baterista do FNM, estava assistindo ao show do Ozzy bem na minha frente, naquele espaço entre a grade e o palco. Parecia fã mesmo! Uns anos depois, ele integrou a banda do Madman!

Mas vamos ao que interessa: ontem, 14 anos depois, o FNM retorna ao Rio com formação quase original sem motivo algum (pelo menos que eu saiba). Depois de uma certa confusão para a compra dos últimos ingressos, a galera se encontra dentro do re-re-re-batizado Metropolitan, agora Citibank Hall. O show demora para começar tendo um atraso de quase uma hora e meia. Então as luzes se apagam e os caras entram todos de terno, com exceção de Mike Bordin que estava exatamente como sempre se apresentou: apenas de bermuda e um protetor para as mãos. Eis que surge Mike Patton de terno vermelho, gel no cabelo e uma escaleta na mão para tocar Midnight Cowboy, cover do John Barry, com o peso do FNM mas com uma certa sobriedade inusitada. Foi meio estranho começar o show com uma balada. Acho que nunca tinha visto isso. Essa mesma sobriedade foi então jogada para escanteio, eles se livraram dos paletós e emendaram na absurdamente empolgante From Out of Nowhere, cantada e pulada por todos! Muito boa e isso ajudou a dar o tom do show.

Algumas músicas depois, começa o desfile de músicas do impecável álbum "King for a Day, Fool for a Lifetime" com a balada Evidence. A música começou exatamente como no CD. Mas quando comecei a cantar junto, percebi alguma coisa de diferente na letra. Não é que o cara estava cantando em português?!?! Aí eu parei de cantar e fiquei só imaginando a letra original na minha cabeça enquanto ele "traduzia". Ficou, digamos, um tanto estranho. Ouvi comentários que ficou parecido com Jota "Blerg" Quest.

Passado esse momento tranqüilo, começou a porradística Suprise! You're Dead! levando todos à bateção de cabeça insandecida. Assim, depois de passar por sucessos mais recentes como Last Cup of Sorrow, veio uma das melhores músicas do álbum "King for a Day...", Ricochet seguida por Easy, baladinha cover do Commodores.

Mas isso só foi a preparação para o primeiro momento "épico" da noite. E assim eles iniciaram aquela música "que tem 4 letras no título e começa com E": EPIC!! Todo mundo cantou, pulou, gritou e se emocionou. O solo dessa música foi o primeiro arrepio da noite... Eu estou começando a medir o quão bom é um show pela quantidade e intensidade dos arrepios. Mas por mais absurda que seja essa música, a seguinte foi ainda mais marcante. A sinistraça Midlife Crisis foi transcendental e o arrepio que veio no refrão dessa música ficou no meu braço por algum tempo! Muito foda!! No meio da música, rolou ainda um momento lounge. Esse Mike Patton é genial!! Ele vai da mais insana explosão até o clima mais intimista e emocionado num piscar de olhos.

Em seguida vem mais um momento de Mike Patton mostrar seu domínio da língua portuguesa tocando Caralho Voador e emendando em Ela é Carioca. De onde esse cara tira essas coisas?? Depois disso, vem algo digno de uma roda muito cavernosa, mas que acabou não se formando: The Gentle Art of Making Enemies. Meu pescoço saiu doendo do show muito em parte por causa dessa música. Vieram, então, King For a Day, Ashes to Ashes e Just A Man, o que fechou o tempo regulamentar.

O bis veio então com a obrigatória We Care a Lot empolgando o público todo. Ao acabar, a audiência ainda pedia pelo hino Falling to Pieces. Já se sabia que eles não a haviam tocado em shows recentes pela América Latina, mas não custava nada tentar aquele último fôlego para tentar convencer os caras. Foi nesse mesmo espírito de último fôlego que o FNM retorna ao palco e Mike Patton diz algo do tipo "Só porque estamos no Rio". Daí surgem aquelas notas de baixo que marcam o início de Falling to Pieces e, num passe de mágica, estamos de volta aos anos 90. Nem o fato de eles terem errado algumas coisas nessa música reduziu a mística em torno dela. Absurda!!

O show termina então sem algumas músicas essenciais. Cadê Digging the Grave, Edge of the World e Introduce Yourself? Mas tudo bem... o show foi fodástico e valeu muito a pena!!

PS: Esqueci a câmera!! Droga!! A foto foi com o celular... merda...

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