Em meio a meus afazeres da parte da manhã, me liga a Renata com praticamente um furo de reportagem: o pessoal do Queen está hospedado no Sofitel. Cara, eu tenho que ir lá! Sei lá o que poderia acontecer... na pior das hipóteses eu saio de lá de mãos abanando a tempo de voltar para casa para ir pro show. Na melhor das hipóteses, seria muito maneiro! Como diria Hamilton, o grande idealizador da Tuverdim (o que merece muitos posts futuros), "na dúvida, vai!".
E fui! Com minha câmera, com a capa do "A night at the opera" e com a
minha guitarra à la Red Special. Chegando no Sofitel, primeiramente fiquei com uma certa vergonha de chegar lá com minha camisa do Queen parecendo uma tiete. Fiquei olhando a portaria de longe. Até cheguei a ver três caras com ar de roqueiro, mas um estava com uma camisa do Kiss. A princípio achei que não teria algo a ver. Meu próximo passo era procurar um bom lugar de onde esperar alguma coisa acontecer. Uma boa idéia foi esperar naquele bar bem ao lado onde tem rodízio de petiscos. Eu poderia sentar lá, pedir uma água tônica e ficar lá de tocaia. Passei embaixo do toldo e chegando do outro lado, bem na minha frente, passou Danny Miranda, o baixista que está acompanhando a banda. Ele estava num momento família com a esposa. Por um momento rolou um "e agora? Falo com ele?". Pô, comecei a pensar que se eu fosse falar com ele, provavelmente eu pareceria um escroto pois eu abriria com algo do gênero: "Hi, do you know where Brian is?". Tecla SAP: te considero um ninguém e só o estou usando como ponte para meu objetivo final. Não. Não poderia ser assim. Eu teria que pensar essas coisas.
Bom, como já estava bem perto do hotel agora, fui falar com meus companheiros de espera. Um deles era, inclusive, o famoso Maradona, organizador de excursões para shows. Legal conhecê-lo. Ficamos lá conversando. Também estava lá Rodrigo, o maior fã de Paul Rodgers que eu já conheci! Eles já estavam lá desde cedo e já tinham conseguido fotos com todos, menos com o PR, que era o objetivo deles ali. Como eu já me senti mais seguro ali em meio a, digamos, semelhantes, fui já pegar minha guitarra. Já a deixei nas minhas costas. Esperando.
Continuamos esperando. Nisso, aparece o guitarrista Jamie Moses, que foi simpático e já pedi para tirar uma foto. Ele chegou a perguntar que pássaros eram aqueles sobrevoando a praia. OK, legal. Claro que depois de falar com ele, perguntamos se o resto da banda ainda estava no hotel, mas ele não sabia. Continuemos esperando.
Passa um tempo e aparece o tecladista Spike Edney. Esse cara é histórico! Desde 1984, é considerado, no palco, o quinto membro do Queen. Aparece em vários vídeos fazendo bases de guitarra para o Brian, e tocando piano enquanto Freddie estava lá na frente do palco cantando. Esteve aqui, obviamente, no Rock in Rio 1, em 1985. Fui falar com ele dizendo "I was in Sao Paulo. Great show!". Mas ele não me deu muita bola. Tirei uma foto, mas foi isso. Ele também não sabia do resto da banda. Aí que descobri que ninguém sabia (ou dizia não saber) de ninguém.
Continuamos esperando. Nisso apareceu um cara que, diziam, era o famoso Jim Beach, o tour manager do Queen desde sempre! Fui até lá, mas não me pareceu ser não. Poderia até ser, mas achava que não... Sei lá...
Continuamos esperando, esperando, esperando... O tempo foi passando e nada acontecia. De repente uma notícia veio por um dos porteiros do prédio. Alguém da banda saiu por uma saída secundária. Pela descrição de um leigo, parecia ser o Roger Taylor. Po, chato. Mas tudo bem. Meu objetivo maior era ter a minha guitarra assinada pelo Brian! O tempo foi passando... minha hora limítrofe era 17h. Pois ainda teria que voltar para casa enfrentando o temível trânsito causado pela famigerada Árvore da Lagoa. E eu achando que não viria para esses lados hoje!
Depois de um tempo, chegam duas amigas do Rodrigo. Uma delas me mostra uma palheta do Brian May dada a ela pelo próprio Peter Malandrone, técnico de guitarra de Dr. May! Meu primeiro pensamento foi, obviamente, "como assim palheta? O cara não toca com uma moeda?". É... a princípio sim... mas de vez em quando, segundo ela, ele usa uma palheta. Quando eu fui devolver, ela disse: "É sua."! Opa! Valeu!
E a espera continua... e começamos a pensar que eles sairiam todos por essa saída lateral secundária. Planejamos nos separar e um grupo avisar o outro, mas não daria certo pois não daria para correr até a outra saída. Além disso, a saída lateral sai direto da garagem. Eles não iriam sair do carro para falar com a gente. Nisso, eu me lembro do Danny, que já saiu há um tempão e ainda não tinha voltado. Nisso, eu o vejo voltando. Aí, eu falei com ele. Foi muito simpático, foi o primeiro a apertar minha mão. Também rolou foto. Continuemos aguardando...
De repente, aparece um cara enorme com mó ar de turista. De bermuda, sandalhas, camisa branca. Aí me falam: "esse aí é o segurança pessoal do Brian May, mas ele não é muito amigável". Bem, ficarei longe. Mas uma coisa que pensamos foi que, se ele está aqui na frente, é porque alguma coisa deve acontecer aqui na frente. Teve até uma hora que ele foi para a lateral do hotel. Eu o segui por via das dúvidas, mas ele só tinha ido ver uma vitrine de uma loja.
Eis que, do nada, pára um carro em frente ao hotel e vejo, num flash, o Roger Taylor saindo! CACETE! O Taylor! E eu falo: "Roger, can I take a picture?". "Sure!" Tiramos! Reparem na foto ele abrindo meu casaco para aparecer a cara dele na minha camisa! hahaha! Muito maneiro!Ainda aproveito e peço para ele autografar meu CD. Só que eu estava com uma bermuda cargo e não consigo achar a capinha do CD. Num ato de desespero, tiro do bolso o ingresso para o show! Nisso, o segurança dele fala: "Oh, the tickets! Let me see!". Num ato de maior desespero ainda, pensando que ele fosse levar embora meus ingressos de pista VIP, eu começo a lutar quase que num mini cabo-de-guerra enquanto que com a outra mão eu vasculhava meu outro bolso. Num ato de desespero mór, eu falo pro Rog "I'm very nervous". Acho que ele falou algo do tipo "relax". Finalmente acho minha capinha e ele a assina. No final, ele ainda manda um "See you later". Mas o mais foda foi que ele falou com aquela voz rouca dele IGUALZINHA À DO CD!!! Muito foda!!! Eu tava muito tremendo nessa hora... bobeira né?
Me recompondo, continuei a espera. Batendo o desespero por achar que o Brian não passaria por lá (já eram 16:10h), fui falar com o segurança, aquele! Ele estava resolvendo algum problema de logística. Fui para perto dele e ele me fala para esperar. Quando ele acabou, me atendeu. O cara era imenso, eu falei com ele olhando para cima! Expliquei que eu gostaria muito que o Brian assinasse minha guitarra e tal. Ele foi bastante atencioso e amigável. Até me ofereceu de levar minha guitarra lá para cima para que ele assinasse. Eu claro que aceitei. Ele então disse que viria depois e pegaria a guitarra comigo. Ele ainda me disse que o Brian passaria por aqui por volta de 17:30h. Ok. Vamos esperar... e confiar. Dessa forma, meu limiar de saída se alongou por mais um pouco.
Assim, por volta das 17:15, começa uma certa movimentação no saguão do hotel. Alguma coisa estava por acontecer. Vi algumas pessoas com credencial para o show. Aquele segurança já tinha trocado de roupa e agora ele parecia realmente um segurança. No que eu me aproximei mais um pouco, ele apenas levantou a mão num gesto de "freeeeze!". Parei na hora. A última coisa que eu queria agora era arrumar confusão. Nisso, eu vejo o pessoal de apoio da banda e familiares passando. Sim, nessa altura, a gente já sabia quem era esposa de quem, quem era segurança, quem era da produção, quem era legal, quem era marrento...
Eis que, por volta de 17:40, o CARA se materializa. Nisso eu já tava com a guitarra fora do bag. Me aproximei dele com a guitarra numa mão e uma caneta na outra. Ele veio como se fosse para apertar minha mão. Numa de malabarista, retribui o gesto e pedi para assinar a guitarra:
F: "Hi, can you sign my guitar?"
B: "Sure. Oh, who made it?" - perguntou reparando que era uma réplica da Red Special.
Eu, achando que ele estava zuando, apenas ri. Ao perceber a marca na mão da guitarra, "Brian May Guitar", ele manda um "Oh", como se tivesse obtido sua resposta. Ao assinar, eu continuei:
F: "You're such a big inspiration for me. I'm about to finish my Ph.D. too." - eu sei que o certo seria D.Sc., mas eu não sei se ele saberia do que se trata. Falei o equivalente para a terra dele. Pra quem não sabe, ele acabou de defender sua tese de doutorado em astronomia.
B: "Really, in what?"
F: "Electric Engineering." - tive receio de ele não saber o que era "signal processing".
B: "Oh, interesting..."
Enquanto ele me devolvia a guitarra, eu ainda perguntei se ele poderia assinar meu CD, com o que ele concordou. Enquanto assinava, continuei:
F: "That's the best guitar ever!"
B: "Thank you!"-responde ele com mó ar de "bondade sua"...
Tudo bem, foi um diálogo meio de fã retardado mega-desesperado, mas foi o que deu para fazer na hora. Aquele cara ali do lado é o segurança. Conclusão: agora não tenho mais uma guitarra, mas sim uma relíquia. Vou ter que arrumar alguma forma de envernizar ou proteger a assinatura de alguma forma. Foi feita com caneta de retroprojetor, mas ela não é tão resistente ao tempo assim. Encontrar com eles foi uma experiência inesquecível. Um tanto "fantasmagórica" (apesar de não ter visto o Freddie), devo admitir. Parecia que eu estava vendo um documentário em primeira pessoa.
FOI FODA!!!